quinta-feira, 31 de julho de 2008

Desfazendo nós

O tom do primeiro post foi proposital. Não que eu quisesse parecer alguém que não acredita em mudanças de vida ou esteja desacreditada. Acho que serve principalmente para provocar em mim o efeito contrário, que eu posso sim, buscar aquilo que eu desejo sem permanecer presa a círculos viciosos. Mas pra que tudo seja entendido, é melhor eu me apresentar de uma maneira mais convencional.
Vejamos...
Meu nome é Marcela. Marcela de Oliveira. Só. A pequenez do meu nome, simpático até, não condiz com meu tamanho. Sempre fui grande, melhor dizendo, sempre fui gorda. Gorda mesmo, daquelas que pesavam mais de 70kg com 12 anos, que comprava roupa de adulto com 7 anos, porque não tinha roupa do tamanho dela na parte infantil da C&A. Gorda daquelas que eram zoadas, massacradas, rejeitadas e humilhadas pelos coleguinhas da escola, daquelas que batiam nos meninos para impor respeito, daquelas que ainda por cima tinham que usar óculos de lentes grossas por causa da hipermetropia, acompanhado de um cabelo crespo cortado repicado (ah, os anos 80 e suas manias...), que só servia para emoldurar de forma grotesca o rosto redondo de uma pré-adolescente.
Gorda daquelas que não tinham namorados, daquelas que adoravam ídolos pop adolescentes pois não estavam em desvantagem, afinal, eles eram inalcançáveis até para a menina mais bonita do colégio. Gorda, daquelas que adoravam revistas de beleza e moda, apesar de nada do que estivesse ali fosse feito para ficar bonito nela. Gorda, daquelas que sentiam um prazer inenarrável em se sentir empazinada depois de um almoço em família numa churrascaria. Daquelas que disputavam o último pedaço com os irmãos como se não tivessem comido centenas de outros antes, daquelas que não sabem dizer não para nada que é oferecido, que enchem a mão nos salgadinhos de festa, que não mastigam, engolem, como se estivessem defendendo a comida de ser tocada por outra pessoa senão elas.
Gorda que sentia pena de si mesma por ser gorda. Que chorava pelos cantos por ser gorda. Que não sabia como tratar esse problema, e pra sentir-se um pouco melhor, ia buscar consolo nos biscoitos recheados, sorvetes, refrigerantes, ou qualquer outra comida.
Sempre fui gorda. Mas um dia emagreci. Aquela fase do estirão, quando o corpo crece quase que do dia pra noite, cria-se peito, bunda, cintura, auto-estima. No meu caso foi assim, com 14, 15 anos, me tornei uma garota bonita. Ainda estava acima do peso (também, não dá pra natureza resolver tudo do dia pra noite...), mas sentia-me bonita, desejável.
E foi nessa época que mudei de colégio, ensino médio, novos colegas, novas possibilidades. Virei a gordinha alegre, dei meu primeiro beijo, o segundo, arrumei namorado. Que delícia me sentir assim, agradando os outros, agradando a mim, e sem fazer nenhum esforço!
Mas, se mudou por fora, não mudou por dentro. Continuava gorda, com cabeça de gorda, comendo coisas que engordam. O resultado? Adivinha?
Na minha cabecinha de gorda, eu ainda estava bonita e desejável, mesmo que as calças e blusinhas fossem ficando apertadas a cada dia. O namorado não reclamava, aliás, nem reclama, até hoje. No entanto, conforme crescia pros lados, ia crescendo também de uma outra maneira, os aniversários me deixavam mais velha, mais consciente de algumas coisas importantes.
Eu sempre fui gorda, mas não é por isso que devo me odiar por ser assim. Calma, esse não é um blog pró-fat. Deixe-me explicar o raciocínio: enquanto crescia, pude desvincular a minha imagem da adolescência do que eu sou hoje, mas isso não quer dizer que eu sou feia ou desprezível porque estou acima do peso. Agregaram-se os quilos, mas ficou a auto-estima. Ficou o amor-próprio, a vaidade, a admiração por mim e pela minha personalidade.
Não sou uma gordinha usual. REALMENTE me acho bonita. Sem aquele papo dove de "respeitar as diferenças", acho que se não tivesse namorado, não ficaria muito tempo sozinha. Mas eu não estou aqui pra contar vantagem (pfff... que metida).
Estou aqui pra dizer porque resolvi emagrecer e chegar ao meu peso "ideal". E porque resolvi fazer um blog pra falar esse monte de coisas sobre mim e sobre esse processo doloroso que só.
É o seguinte: esse ano cheguei ao maior peso de toda a minha vida, 89 kg. Um peso extremamente alto pra uma pessoa de 1,68, 24 anos e professora de educação infantil com 10 alunos de 4 anos extremamente ativos e espertos que precisam ser acompanhados de perto. Ainda por cima, as roupas não estavam tão legais quanto antes, apesar de não ser uma gordinha-caixote, estava deformada e inchada. Já sabia que não estava legal quando fiz o exame de sangue, que acusou um colesterol de 340, um ABSURDO pra minha idade.
Já não é mais questão estética ou de resistência. Agora, é preciso encarar a realidade e sair dessa inércia, esse jogo do contente que a comida proporciona, do "ah, não tenho roupas bacanas mas posso comer esse pote de sorvete pra compensar a tristeza". Não, não desejo isso pra mim, não desejo me tornar escrava de cevastatina, ou diabética, ou sei-lá-o-quê-tensa.
O que eu desejo pra mim - e o que estou fazendo pra conseguir - é o assunto que esse blog-diário vai abordar durante o processo de emagrecimento que comecei no último mês de junho. Convido vocês a me acompanharem nessa empreitada, e quem sabe, comemorar o sucesso daqui a alguns meses, brindando comigo a vitória contra o excesso de peso!

Apresentação

Eu sou a Marcela
Meio crua, como bife mal passado
Apanho da vida
Mas às vezes também bato
Gosto de criança
Só não gosto quando elas não me ouvem
Quero controlar suas ações
Mas já aprendi que não é tão fácil
(e nem tão certo)
Procuro seguir o protocolo
por medo de errar demais
Brigo com a balança, com a família,
brigo até comigo mesma
Depois faço as pazes
menos com a balança
Quero aprender tudo
Porém, tenho medo de não dar tempo
Minha vontade de aprender é enorme
De viajar, conhecer outros lugares
De provar todas as comidas
De mudar o mundo, até
Desejo que ficou guardado
No bolso de uma calça jeans
que não me serve mais.