sábado, 25 de abril de 2009

Sabendo ouvir críticas e elogios

Outro dia estava muito bem na aula, passando aquelas continhas básicas de cala-a-boca-e-copia, quando um aluno meu vira pra mim e manda:

-Tia, você tem o maior bundão.

Parei uns dois segundos e fiquei matutando com a o diabinho e o anjinho que habitam meus ombros. Mandar pra diretoria o moleque abusado ou fingir que não estou ouvindo?
Tudo bem, é uma criança. E tudo bem, nesse processo de emagrecimento já ouvi piores (lembra aquela do braço? Eu lembro...). Mas daí a deixar pra lá um comentário inoportuno, não, aí já é demais. É claro que eu deveria respeitar a idade (8 anos) e a ingenuidade (qual?) da criança, afinal, em tempos de ex-BBBs Priscilas e afins, não é raro que uma criança sinta-se à vontade para desfiar comentários comparativos-antropológicos sobre o corpo da professora. E qual criança não repara na professora??? Vai dizer que você não repara(va)?
Sem interromper o trabalho de passar os cálculos no quadro, mandei

"Que nada, fulano, a sua boca grande ainda consegue ultrapassar o tamanho da minha retaguarda".

Foi um tal de "iaêêê" pra lá e "aaaaaaaai, bem feito!" pra cá que no momento não consegui saber se era melhor ter fingido que não tinha escutado. Depois que o carnaval-zueira passou, vem aquela perguntinha básica, que eu lá no meu âmago já sabia que surgiria mais cedo ou mais tarde:

-Tia, o que que é retaguarda, heim?

O diabinho no meu ombro começou a gargalhar dando cambalhotas no ar. E o anjinho meteu a aureola debaixo do braço e foi dar pitaco em outras freguesias...

***

Mas essa questão de saber ouvir críticas e elogios anda me perturbando. Quem aqui costuma acreditar em toda crítica? Quem leva a sério os elogios? Pensando sobre isso, comecei a observar as minhas reações quando alguém dava opiniões, desejadas ou não, sobre a minha pessoa e as mudanças que andam acontecendo.
Por exemplo, naquele churrasco de família, chega a sua avó com aqueles "oclinhos" de meia lua, te fita de cima abaixo e diz: Nossa, como você está elegaaaante!
Quem não fica feliz ao ouvir uma frase dessas da avó? É claro que você acredita e sai feliz da vida saracutiando por entre as primas, vai que ela fica tão orgulhosa de você que passa a oferecer um pedaço de torta um pouco maior? Ou melhor, vai que ela passa a te OFERECER o pedaço, coisa que ela não fazia antes, quando você era gordinha?
Outra coisa que me deixa chateada é não acreditar nos elogios, ou fazer pouco caso deles. É claro que aquele "gostosa!" gritado pelo peão da obra da esquina não vai fazer efeito nenhum (e se fizer, putz, estamos mal mesmo, heim?) na sua auto-estima. Mas quando aquele gato-deus-do-olimpo que você jurava que nunca poderia olhar pra você te mede e vem puxar assunto, qual é sua reação?

a) acha que ele está te zoando
b) acha que ele está maluco
c) acha que ele está gravando um video engraçadinho pro youtube e você é a vítima da vez

Pois é, desembaraçar-se desses velhos preconceitos é difícil e ando passando por situações desse tipo. Que o namorido não nos ouça - mas provavelmente vai ler.... - ultimamente ando percebendo alguns pescoços se virando enquanto eu passo. Não que isso seja ruim, ao contrário, sei que mereço, mas já perceberam como temos dificuldade para aceitar algumas mudanças fundamentais no nosso corpo? Eu, que até nos meus dias de maior peso, sempre me achei capaz de muita coisa, bonita, inteligente e tudo mais, vejo que estou com dificuldades para construir uma nova imagem da Marcela que seja fiel à realidade atual.
Entenda, eu tenho espelho em casa, sei o que anda se passando no corpo. O problema todo, acho que da grande maioria também, é o que se passa dentro da gente.
Lembro de um poema que li no livro "A marca de uma lágrima", do Pedro Bandeira. Adorava esse livro, não só pela história em sim, mas por me identificar com a Isabel, a personagem principal da história.


Há o instante da chegada
e o momento da partida
Quanta vida eu já vivi?
Quanto falta ser vivida?

Saber o que fazer a partir daqui, da vida que falta ser vivida, é a grande questão que se lança a partir do momento que nos comprometemos com a mudança. Mudança pra que, pra onde, pra quem?
Se desprender dos velhos hábitos, jogar fora as velhas roupas, rever as fotos antigas e sentir toda aquela mistura de angústia e prazer que aparece nessas horas. Prazer pela conquista, angústia pela sensação de ainda não estar bom o suficiente, pelo tempo perdido, pelo medo de fracassar.
Ora, emagrecer é uma conquista às avessas! Ao invés do acúmulo material, estamos lidando com o ato de se desprender de velhos rótulos, estigmas e de quilos e quilos que pesavam em nossas costas.
No entanto, a leveza é uma conquista que vem de dentro. Deixar que ela preencha os espaços vazios é, ironicamente, o absurdo mais coerente que eu já vi.

5 comentários:

  1. Nunca acreditei em elogios. Talvez daí derive de mim uma espécie de pessimismo em relação ao outro. Creio que o verdadeiro elogio está naquele que você faz sobre si, sem pecar na pedância ou soberba (nossa... essa frase vai entrar na minha biografia).

    Quanto ao seu glúteo demasiado evidente. Parabéns! Agora, sim, você é uma mulher brasileira!!

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  2. gente do ceu q post mais gostoso! vc escreve de uma maneira gostosa de ler.
    esse livro me deu ate arrepio qnd li aqui... lembrei q li qnd era crianca e nossa, ficava nas nuvens com ele.
    essa resposta ao aluno eu rachei de rir hahaha ja passei por essas coisas com alunos tb, sao terriveis.
    obrigada pela visita ao meu blog viu.

    beijos
    flavia
    diario de peso

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  3. Hahahaha, já ouvi coisas semelhantes de pestinhas. Hoje em dia não dá pra acreditar nas coisas que eles dizem! E sim, é mais difícil "desconstruir" a imagem de gordinha da cabeça da gente do que emagrecer em si.

    Bjocão querida e bom feriado!


    FUIZ...

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  4. Confesso que não estou acostumada a elogios, mas dizem que nós devemos aceitar - ou ouvir apenas - seja lá o que disserem de nós. Na verdade, vc tem que se olhar e se sentir bem. E quando nos sentimos bem, os pescoços giram na nossa direção, mesmo que estejamos ainda um pouco acima do peso...
    Mudar é gostoso. Ver que houve um progresso na sua vida é o mesmo que dizer que vc nao estagnou em algum ponto obscuro do passado. O amadurecimento, perda de peso, uma cirurgia "plástica". Mudar é bom, cansa e dá trabalho. Mas o resultado sempre compensa.
    Continue nessa luta, Marcela!!! Vc está cada dia mais linda =P
    E isso não é só um elogio, é sinceridade...

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  5. Menina parabéns!! Por sua força de vontade e tmb pela maneira como escreve!! Uma leitura q te prende, envolve...
    Agora sou suspeita para falar de elogios! Confesso e isso eu só percebi do alto dos meus 27 aninhos (vc vai ver q depois dos 25, vc muda e enxerga mais coisas...) que tenho sérios problemas com auto-estima... A minha diga-se de passagem é baixa, baixíssima... Sei que não devo ser assim, mas é difícil!! É mais fácil ver e apontar os erros em mim do q acreditar nos elogios de fora... Ai, ai... Tenho q mudar isso, eu sei...

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